A SAGA DA MENINA MORTA.!!!
( Trechos da matéria do Jornal Diário do Nordese/ do SVC..Grupo Edson Queiroz)
SEM CORTEJO: a dona-de-casa Kátia Cilene da Silva Holanda levou para Aracoiaba, ontem, em uma topique o corpo do bebê em um caixão branco envolto em saco plástico laminado (Foto: kid Júnior)
Corpo de bebê prematuro de seis meses de gestação, morto há seis meses, é esquecido no Hospital César CalsA falta de informações e acesso a serviços públicos levam as pessoas aos caminhos mais sombrios e frios da humanidade. Depois de quase seis meses de uma série de mal-entendidos, ontem uma família de Aracoiaba conseguiu recursos para levar para casa o corpo de um bebê prematuro de seis meses de gestação, que nasceu no Hospital Geral César Cals (HGCC) em 5 de março deste ano e faleceu, devido a complicações, no dia seguinte.Era Geovana Holanda Lima, uma menina que nasceu com 1,250 quilos, viveu cerca de seis meses dentro da barriga de sua mãe, uma jovem surda e muda e com problemas psiquiátricos, teve um dia de vida na terra e passou quase seis meses morta, esquecida pela família e pelo resto do mundo numa geladeira do necrotério do hospital.A dona-de-casa Kátia Cilene da Silva Holanda, avó de Geovana, levou, ontem, de Fortaleza para Aracoiaba, o corpo do anjo no caixão branco, envolto em saco plástico laminado, numa topique que faz o transporte intermunicipal. Nada de cortejos, nem rituais, só a morte a tiracolo na sua forma mais impessoal, crua e fria.Ela só descobriu que o corpo da neta ainda estava no HGCC quando veio resolver o problema da troca dos nomes no atestado de óbito. No lugar do nome de Geovana, o atestado continha a identificação da mãe do bebê, Francisca Erbene Holanda Bezerra.A série de ruídos de informações começou, conforme Kátia Cilene, quando foi avisada pelo hospital, no dia 6 de março, da morte da criança. Depois disso, veio a Fortaleza para buscá-la. Como não tinha dinheiro para comprar o caixão, a retirada do corpo "de qualquer jeito" não foi autorizada pelo hospital."Diante da dificuldade, eu disse para o pessoal do hospital que desse um jeito para enterrar o corpo", conta a dona-de-casa.No entanto, há cerca de um mês e 15 dias procurou novamente o hospital para resolver as trocas de nomes da certidão de óbito. Foi quando descobriu que o corpo de sua neta ainda estava lá. "Eu não sabia, pensava que o hospital tinha mandado enterrar. Nunca fomos avisados de que o corpo ainda aguardava a família", justifica a avó.Novamente sem recursos para custear o caixão, Kátia Cilene passou 45 dias numa verdadeira saga para conseguir o dinheiro. Arranjou então com o filho da prefeita de Aracoiaba. A avó conta que nunca pensou em passar por uma situação como esta, sem perspectiva até para voltar para casa com o corpo da neta esquecida."Isso é muito triste. Passei quase um mês e quinze dias mendigando para conseguir esse caixão. Agora nem um transporte adequado para voltar de forma rápida eu tive. Estou me sentimento muito humilhada, sou pobre e analfabeta, lutei muito para provar que eu não sou um nada, mas consegui".Ontem, Geovana, a menina que não teve vida mas ganhou um nome, passou quase toda a manhã numa parada de ônibus da Avenida Borges Melo esperando um transporte.Foi escondida num caixão encoberto para não despertar o horror nem a rejeição de ninguém. Seguiu para Aracoiaba, onde foi sepultada no cemitério da cidade, na espera da vida eterna.ANÁLISEEnterro à indiferença e ao descasoA indiferença com a vida ou com a morte é algo realmente incompreensível. Diariamente, na apuração das matérias, nos deparamos com cenas e situações que chocam, comovem, marcam as nossas vidas. No dia 7 de março de 2008, acompanhei o cortejo fúnebre do catador de lixo José Carlos Ferreira de Sousa, de 39 anos, carregado morto sob o sol pelas ruas de Fortaleza na sua própria carroça de catar objetos recicláveis, em direção ao Sistema de Verificação de Óbitos. Como a família não tinha dinheiro para o enterro, a líder comunitária do bairro resolveu fazer esse ato para denunciar a situação. No entanto, ninguém, nem mesmo a líder que tinha um carro de som que acompanhava o cortejo, teve a iniciativa de colocá-lo dentro e levá-lo para o local. É a sociedade que criamos, indiferente, desumana. Há pouco, no dia 29 de maio deste ano, a também repórter Nathália Lobo se depara com corpos de indigentes jogados em valas comuns no cemitério do Bom Jardim pelo próprio Estado, em veículo do Instituto Médico Legal. Geovana foi esquecida morta pela família na geladeira do necrotério do hospital; José Carlos teve sua vida e morte marcada pela indigência; e inúmeros outros, que morreram da violência, foram mais uma vez vítimas da indiferença e jogados sem identificação em vala comum. O desrespeito à dignidade das pessoas, sejam vivas ou mortas, virou cena comum. Se acostumar com isso é correr o risco de também viver ou morrer indiferente. ////////////// A matéria acima foi publicada no jornal diário do nortdeste e o credito da reportagem é da réporter Paola Vasconcelos, fotogrfia é do réporter fotográfico Kid Junior. O jornal Diário do Nordeste depois de registrar a saga de José Carlos, o Catador, humilhado após a sua Morte, tendo seu corpo levado em seu carrinho pelas ruas e avenidas do Jangurussú, fato esse que me fez escrever uma homenagem à ele com o o titulo: O CATA(DOR) MEU HÉROI...que encontra-se aqui nos arquivos do blog...outra vez um fato registrado agora na materia A SAGA DA MENINA MORTA..a minha indignação fez nascer a inspiração para homenagear a personagem central desse lastimável fato que mácula essa cidade...é pra você pequena Geovana, o poema abaixo:
GEOVANA! HUMILHADA, NA VIDA E NA MORTE..!!!
Sou Geovana...pequena brasileira,,,!!!
Que conheceu o abandono em uma geladeira...
Assisti minha dignidade, se despedaçar...
Sou Geovana! E pela falta de um pequeno caixão
Conheci a tão fria e cruel humilhação..
A uma pobre e pequena infeliz...
Envergonhando a este grande país...
E aos dignos dessa nossa nação...
Na trilha da fome, sem cobre e sem nome...
Humilhada e tão só...
Sem poder voltar ao pó...
Ao pó do qual vim, com diz a sagrada escritura..!!!
Não serei eu, de Deus criatura?
Teria eu que passar por tal desventura...
De não ter uma sepultura para eternamente, poder descansar..???
Sou Geovana, de uma alma que pena...
No corpo morto de uma pequena....
E entregue ao cruel abandono...
Sem dona, nem dono e esperando o abono...
De quem possa ajudar...
A aliviar o sofrimento....de quem espera o momento
De ter um digno sepultamento....
Quem sabe.?...assim me consolo...
Ao repousar, enterrada no solo.... ?
Dessa pátria amada, Mãe gentil....
Eu há pouco fui personagem....
Personagem da linda lenda.... lenda da cegonha...
Hoje, sou a triste imagem...
De uma sociedade, sem humanidade e vergonha...
Sem identidade... Eu sou, a calamidade
Fui roubada, em minha dignidade
Como fora castigo....eu ,fiquei sem jázigo
Pra que meu corpo pudesse, um dia, repousar
Sou Geovana...pequena brasileira,,,!!!
Que conheceu o abandono em uma geladeira...
Assisti minha dignidade, se despedaçar...
Sou Geovana! E pela falta de um pequeno caixão
Conheci a tão fria e cruel humilhação..
A uma pobre e pequena infeliz...
Envergonhando a este grande país...
E aos dignos dessa nossa nação...
Na trilha da fome, sem cobre e sem nome...
Humilhada e tão só...
Sem poder voltar ao pó...
Ao pó do qual vim, com diz a sagrada escritura..!!!
Não serei eu, de Deus criatura?
Teria eu que passar por tal desventura...
De não ter uma sepultura para eternamente, poder descansar..???
Sou Geovana, de uma alma que pena...
No corpo morto de uma pequena....
E entregue ao cruel abandono...
Sem dona, nem dono e esperando o abono...
De quem possa ajudar...
A aliviar o sofrimento....de quem espera o momento
De ter um digno sepultamento....
Quem sabe.?...assim me consolo...
Ao repousar, enterrada no solo.... ?
Dessa pátria amada, Mãe gentil....
Eu há pouco fui personagem....
Personagem da linda lenda.... lenda da cegonha...
Hoje, sou a triste imagem...
De uma sociedade, sem humanidade e vergonha...
Sem identidade... Eu sou, a calamidade
Fui roubada, em minha dignidade
Como fora castigo....eu ,fiquei sem jázigo
Pra que meu corpo pudesse, um dia, repousar
O ventre que me gerou...minha pobre mãezinha...
Sofre a coitadinha, das faculdades mentais..
Omissa não foi....não ouvia, nem podia falar...
Surda e muda. minha Mãe..só ficou a agonia,,,
Assistindo a letárgia de uma sociedade a calar....
Minha Avó, no drama de uma saga, amarga...
A clamufar, meu pobre e pequeno caixão...
Aumentando em mim, a dor dessa perversão...
Escondida assim, segui num transporte
Sou Geovana...pequena esquecida..ferida e sofrida
Se fui humilhada em minha VIDA...
Muito mais, humilhada, fui, na hora da MORTE...!!!
( Pedro Sampaio )
Minha Avó, no drama de uma saga, amarga...
A clamufar, meu pobre e pequeno caixão...
Aumentando em mim, a dor dessa perversão...
Escondida assim, segui num transporte
Sou Geovana...pequena esquecida..ferida e sofrida
Se fui humilhada em minha VIDA...
Muito mais, humilhada, fui, na hora da MORTE...!!!
( Pedro Sampaio )